sexta-feira, junho 22, 2007

Um Mundo de Vidas


Nós vivemos da nossa vida um fragmento tão breve. Não é da vida geral - é da nossa. É em primeiro lugar a restrita porção do que em cada elemento haveria para viver. Porque em cada um desses elementos há a intensidade com o que poderíamos viver, a profundeza, as ramificações. Nós vivemos à superfície de tudo na parte deslizante, a que é facilidade e fuga. O resto prende-se irremediavelmente ao escuro do esquecimento e distracção. Mas há sobretudo a zona incomensurável dos possíveis que não poderemos viver. Porque em cada instante, a cada opção que fazemos, a cada opção que faz o destino por nós, correspondem as inumeráveis opções que nada para nós poderá fazer. Um golpe de sorte ou de azar, o acaso de um encontro, de um lance, de uma falência ou benefício fazem-nos eliminar toda uma rede de caminhos para se percorrer um só. Em cada momento há inúmeros possíveis, favoráveis ou desfavoráveis, diante de nós. Mas é um só o que se escolheu ou nos calhou. Assim durante a vida vão-nos ficando para trás mil soluções que se abandonaram e não poderão jamais fazer parte da nossa vida. Regresso à minha infância e entonteço com as milhentas possibilidades que se me puseram de parte. Regresso à juventude, à idade adulta, ao simples dia de ontem e a infinidade de soluções que não adoptei dava para um mundo de vidas. Foi uma só. Nela realizei, num único percurso, aquilo que constituiu o todo de uma vida humana. E todavia, nessa estreiteza de ser está o infinito de mim. Deus é a simplicidade absoluta e tem o máximo de ser. Nós conhecemos em nós esse máximo e é por isso que ao Deus o soubemos inventar.




Vergílio Ferreira

sábado, junho 16, 2007

Era uma vez...

"Sonhar é das melhores coisas que podemos experienciar. Melhor do que sonhar só mesmo viver um sonho! São sensações, azáfamas de cores, cheiros, sabores, melodias e texturas que nos invadem, dão-nos uma sensação tão fantástica que sentimos necessidade de a partilhar… Apetece-nos sorrir, o sol brilha com mais intensidade, envolve-nos na sua luz, o céu torna-se um azul exuberante, os jardins extravasam um verde fresco, e tudo parece bater certo. Tudo faz sentido, mesmo aquilo que não faz sentido nenhum… As respostas e explicações deixam de ser importantes. O que importa é viver o momento, SENTIR. A nossa aura mais visível do que nunca manifesta a alegria que se apodera de nós através das cores do arco-íris que a pintam psicadelicamente. Fantasias tão reais, que nos fazem acreditar que de facto as estamos a viver… Desejamos nunca deixar de sentir aquelas sensações. Parece que podemos fazer tudo, sentimo-nos levitar… Somos parte integrante da natureza e a terra mãe preenche-nos com o seu caloroso afecto maternal. Tudo está bem, tudo está muito bem. É um mundo à parte… O mundo que Louis Armstrong viveu quando criou a sua obra prima «What A Beautiful World». Não é possível explicar, não é possível mostrar, não é possível ensinar… Só sentindo se pode chegar lá. É sinónimo de felicidade plena. Sabes do que estou a falar?"

Lembras-te disto??

Eu não.

sexta-feira, junho 15, 2007

Carpe Diem

Sê prudente, começa a apurar teu vinho, e nesse curto espaço
Abrevia as remotas expectativas. Mesmo enquanto falamos, o tempo,
Malvado, nos escapa: aproveita o dia de hoje, e não te fies no amanhã.


Horácio, Odes, Livro 1, ode 11, versos 6-8


"Aproveita o dia", tornou-se um convite estimulante e de tão forte apelo que a maioria das pessoas que o usa como lema ou inspiração é capaz de ficar um tanto desapontado com o original de Horácio. O poeta aconselha seu amigo, não a ir à luta e conquistar o mundo, mas sim a voltar ao trabalho de sempre. Ninguém sabe o que os deuses lhe reservam, assegura Horácio; então, a melhor coisa é parar de sonhar com o futuro, admitir que a vida é curta, e colher os frutos de hoje.
Então… carpe diem não é bem "vive o dia como se fosse o último" mas mais "conforma-te e não mudes".

domingo, junho 03, 2007

E agora?

No dia em que nada interessa



No dia em que já nada importa



No dia em que já não quero mais saber



No dia em que só quero desaparecer



Nesse dia



Sou livre para me atirar de cabeça em tudo o que sempre quis



Mas não tinha coragem



Tinha medo da tua reacção



Tinha medo de te desiludir



Ainda me importava



Por isso agora que já não quero saber de nada, e sou





realmente livre,



Até posso morrer amanhã, ou hoje mesmo



Mas com a satisfação de saber que pelo menos fiz



E por mais curta que tenha sido



Valeu a pena