segunda-feira, dezembro 04, 2006

Condução vs Civismo

Há uns dias tive uma conversa curiosa sobre um tema um tanto banalizado e ao qual não lhe é dada a atenção devida que são Os Acidentes na Estrada. Achei que foram discutidas questões persistentes que merecem atenção por isso decidi transcrevê-la para aqui.

Epá, eu cada vez tou pior a conduzir…
Pois já reparei! Cada vez mais depressa!
Agora em cada viagem que faço ultrapasso pela direita pela esquerda… É por onde dá pa passar!
Porque é que te está a dar pra aí??
Qualquer dia vais parar ao Alcoitão!!! Admira-te!!!
Não acontece só aos outros!

Nem digas isso…
Já viste o que era??
Estragavas a tua vida toda!
Logo tu que não paras... Ias ser um infeliz, pensa nisso.
Estou a falar a sério!!
Já pensaste se isso acontecesse??
Já pensei superficialmente… porque se ponho a pensar muito nisso ainda tenho uma depressão.
Ou pior do que isso, uma vez vi um acidente de um gajo que foi contra uma carrinha familiar de uma senhora que levava duas crianças. Uma das crianças saiu disparada pelo vidro da frente não sei quantos metro ficou toda desfeita mas ainda se levantou e foi a correr pa mãe... A miúda parecia um morto vivo de um filme de terror o outro era mais bebe e ficou esmagado dentro do carro porque o gajo bateu mesmo contra onde estava o bebé... Já viste o que é viver com um peso na consciência desse género??
Nunca passei por isso....mas claro que não é uma sensação muito boa acabar com uma família!
Ias ficar a pensar nisso e a culpar-te o resto da vida!! Mas antes de acontecer nunca te passa pela ideia que isso te possa acontecer a ti... mas pode.
Claro, tudo é possível. Mas eu também posso ir a dar a minha voltinha de bicicleta ali pelo Guincho e Malveira, como eu costumo fazer, e vir um gajo qualquer e bater-me e deixar-me tetraplégico ou coisa do género!
Pois podes… Mas aí a culpa não é tua, é um peso diferente… É claro que isso é horrível e ias sofrer também mas não ias ter um peso na consciência porque a culpa não tinha sido tua, nesse caso a vítima eras tu.
Eu não tenho filhos e não posso imaginar o que aquela mãe passou mas mesmo assim se um gajo me fizesse aquilo eu matava-o!! Imaginas o que é ver os teus filhos, crianças ainda, a morrer nas tuas mãos por causa de um irresponsável, egoísta e desmiolado qualquer que nem devia andar a conduzir??
Espero que ele nunca se esqueça daquele dia para não voltar a fazer o mesmo.
Mas há pessoas que se estão nas tintas para as consequências do acidente nos outros… Desde que fiquem bem, tá tudo bem. Eu se fosse o pai dava-lhe poucas dava…
Por mais que lhe batesses se ele não percebesse a importância moral e ética da situação não serviria de nada.

Já viste que enquanto não personalizarmos os casos ninguém liga? Achas que dizer a morte nas estradas é a principal causa de morte em Portugal tem o mesmo efeito da história da senhora que te contei?? A resposta é não de certeza que ficas muito mais sensibilizado com aquele caso da senhora e das crianças.
Se dissermos morreram 100 pessoas toda a gente caga pa isso MAS se personalizares como eu fiz ao bocado consegues pôr as pessoas a pensar no assunto nem que seja para sentir pena.
«Uma morte singular é uma tragédia; um milhão é uma estatística.»

Nós nem ligamos… No Iraque, por exemplo: «Atentado morrem 50 pessoas», uns sem braços, outros sem pernas, outros sem nada, outros todos esfolados, toda a gente mutilada espalhados na rua atirados pra ali para as ratazanas os devorarem… E nós a almoçar!!
Mas é isto todos todos todos todos todos os dias!

Pois... Por isso é que eu nem gosto e evito ver as notícias… Já nem quero saber!!!

Ponto número um a ser salientado:
É bom não esquecer que quando praticamos uma condução de risco o grande mal não é o que nos pode acontecer… isso é mau mas a culpa seria nossa, a vida é de cada um e cada um sabe o que fazer com ela MAS estamos a pôr a vida de outros em risco, outros que não querem nem merecem que lhes caia uma bomba dessas em cima.

Ponto número dois:
As estatísticas são encaradas com indiferença… Demasiada indiferença. Eu sei que não são um meio propriamente comovente mas uma coisa é certa por detrás de cada um daqueles números está uma história NÃO SÃO SÓ NÚMEROS.
Ponto número três:
Ignorar as consequências ou afastar a vozinha da consciência que te diz o que deves e especialmente o que não deves fazer não vai fazer as coisas desaparecerem, elas continuam lá. Já é altura de começar a encarar os problemas de frente e, melhor do que isso, começar a agir de forma a evitá-los.