O Morcego

– Mesmo que viajasses mil anos, animal insensato, não conseguirias alcançar o Sol. O que pretendes é tão absurdo como uma formiga querer chegar à Lua. O melhor que podes fazer é desistir da tua loucura.
Mas o morcego, ainda que achasse as palavras do eremita razoáveis, convenceu-se de que ninguém o faria desistir do seu propósito. E durante anos, cada vez mais velho e cansado, continuou a tentar sem trégua. Voara tanto que, um dia, se perguntou:
«Não terei eu voado tanto que deixei o Sol para trás?»
Mas eis que um arrogante e vaidoso pássaro o ouviu e se apressou a responder-lhe:
– És o animal mais estúpido e ridículo que alguma vez conheci, além de cego! Não vais a lado nenhum, porque não fazes mais nada senão voar em círculos e não avanças um único centímetro em todo o dia. Eu, que vejo muito bem, posso ir até ao Sol quando quiser. Mas tu, para mais, estás esgotado, desmotivado. Esquece as tuas loucuras.
– É surpreendente – replicou o morcego – que eu não tenha olhos para ver o exterior e tu, ao que parece, possas ver o interior das criaturas com os teus. És mesmo sortudo!
E continua a voar, a voar sem cessar, presa de um sonho inquebrantável, com uma perseverança exemplar. E foi em busca dessa tarefa tão árdua que, um dia, o seu pequeno coração deixou de bater. Mas enquanto o seu corpo se precipitava no espaço, um raio de Sol atingiu-o e levou-o para o seu seio, fundindo o seu pequeno corpo com o núcleo do astro. O pássaro arrogante, por seu lado, ainda está vivo e continua a voar, mas de costas viradas para o Sol. E embora tenha vista, cada dia está mais longe do disco que ilumina tudo o que está vivo.
2 Comments:
Uma pequena mensagem de ESPERANÇA para começar bem o ano :)
e aí está o teu amigo morcego a lutar contra tudo e todos!lool
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