domingo, outubro 22, 2006

Berkeley - E se tudo o que tomas por certo não passar de um sonho?

Berkeley foi um bispo irlandês que viveu entre 1685 e 1783 e que construiu teorias muito, muito interessantes. Ele achava que as coisas no mundo são exactamente como nós as sentimos mas não são “coisas”. Para outros filósofos do iluminismo (Locke, Descartes, Espinosa) o mundo físico era uma realidade mas para Berkeley isso não é assim tão claro; ele recorre ao empirismo para pôr esta ideia em dúvida. Ele afirma que a única coisa que existe é o que nós sentimos. Mas não sentimos “matéria” ou “substância”. Não sentimos as coisas como “coisas” palpáveis. Quando pressupomos que aquilo que sentimos tem uma “substância” subjacente, estamos a tirar conclusões precipitadas, não temos nenhuma prova empírica para essa afirmação. Quando, por exemplo, batemos com força com o punho numa mesa temos uma clara percepção de uma coisa dura mas não sentimos a verdadeira matéria da mesa. Da mesma forma, podemos sonhar que batemos em algo duro, mas no nosso sonho não há nada duro. Além disso uma pessoa pode ser persuadida de que “sente” todas as coisas. Uma pessoa pode ser hipnotizada e sentir calor e frio, carícias suaves e socos duros. O que nos faz sentir as coisas (duras, frias, moles, quentes, etc.) é a vontade ou espírito. Ele também achava que todas as nossas ideias têm uma causa exterior a nossa consciência, mas que esta causa não é de natureza material, mas sim, espiritual. Segundo Berkeley, a nossa alma pode ser a causa dos nossos pensamentos – como quando sonhamos –, mas só uma outra vontade ou espírito pode ser causa das ideias que constituem o nosso mundo material. Tudo vem do espírito, “que realiza tudo em tudo e através do qual tudo subsiste”, afirma ele. A questão e também o que nós somos. Somos realmente pessoas de carne e osso? O nosso mundo é constituído por coisas reais – ou estamos apenas rodeados pela consciência? Berkeley não põe apenas a realidade material em dúvida. Ele duvida também de que o tempo e o espaço tenham uma existência absoluta ou autónoma. Mesmo a experiência do tempo e do espaço pode residir apenas na nossa consciência.