sábado, novembro 04, 2006

As palavras

Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos hábitos, que me constrange e me tranquiliza. Tento descobrir a face última das coisas e ler aí a minha verdade perfeita.
Trago em mim um pesadelo de ideias, um cansaço profundo que me alaga, me submerge.
E, todavia, como é difícil explicar-me! Há no Homem o dom perverso da banalização. Estamos condenados a pensar com palavras, a sentir em palavras, se queremos pelo menos que os outros sintam connosco. Mas as palavras são pedras. Toda a manhã lutei não apenas com elas para me exprimir, mas ainda comigo mesma para apanhar a minha evidência.
Quando procuro em mim a face original da minha presença no mundo, o que descubro não é o alarme da evidência, o prodígio angustioso da minha condição: o que descubro é a indiferença bruta de uma coisa entre coisas.

Aparição